Além dos conhecidos efeitos no estômago e duodeno, os anti-inflamatórios não hormonais convencionais causam um estrago significativo no intestino, que costuma passar despercebido por médicos e pacientes.
O maior estudo controlado já realizado sobre a ação de anti-inflamatórios no aparelho digestivo traz uma avaliação sistemática dos efeitos do remédio tanto na parte alta do trato gastrointestinal quanto no intestino.
O estudo, denominado Condor, envolveu cerca de 4.500 pessoas de 32 países, incluindo o Brasil. Os resultados foram publicados no periódico "The Lancet".
"Os médicos ficam mais voltados para os efeitos no estômago e no duodeno, mais sintomáticos. No intestino, as lesões podem não dar sinais, mas causar perda de sangue oculto nas fezes, o que pode levar à anemia", diz o reumatologista Milton Helfenstein Jr, da Unifesp.
Em alguns casos, o remédio pode causar dores abdominais e diarreia.
Para o gastroenterologista Décio Chinzon, da USP, o estudo mostra que problemas no intestino, embora menos comuns, são importantes e devem ser investigados.
Segundo o médico, as estratégias para proteção estomacal não podem ser aplicadas às lesões intestinais.
PROTEÇÃO GÁSTRICA
Soluções como tomar leite e sal de frutas não adiantam, de acordo com Helfenstein. "O efeito do anti-inflamatório convencional é sistêmico. Ele inibe a produção de uma substância que protege a mucosa do estômago."
Isso acontece basicamente com os anti-inflamatórios não hormonais chamados não seletivos. Eles agem bloqueando duas enzimas: a COX 2, responsável pela inflamação, e a COX 1, produzida naturalmente pelo corpo e relacionada à proteção da mucosa gastrointestinal.
Para diminuir o estrago, seu uso é associado a inibidores da secreção ácida, o que significa incluir mais um remédio, para tratar dos efeitos do primeiro.
Nos anti-inflamatórios que inibem só a enzima COX 2, os efeitos gastrointestinais são bem menores, como mostrou o estudo Condor. A pesquisa foi patrocinada por uma empresa que fabrica esse tipo de anti-inflamatório.
No entanto, inibidores da COX 2 são questionados por possíveis efeitos cardiovasculares, como infarto e AVC.
Outros trabalhos apontaram esse risco, mas os resultados ainda são controversos, segundo o cardiologista Antônio Carlos Chagas, da USP.
Matéria de IARA BIDERMAN
da Folha de São Paulo, publicado no caderno saúde de hoje.
Olha, eu que o diga =\
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